“É preciso uma aldeia inteira para criar uma criança”. Pode parecer estranho um texto sobre empreendedorismo feminino começar com esse provérbio africano sobre educação infantil, mas trazer a importância da comunidade para os negócios liderados por mulheres segue sendo essencial e urgente.
Um recente estudo produzido pelo Distrito Dataminer, em parceria com a B2Mamy e Endeavor, mostra que apesar das mulheres serem 51,8% da população brasileira e de ter ocorrido uma significativa evolução no empreendedorismo feminino como um todo – aumento de 200% no número de negócios criados por mulheres nos últimos cinco anos segundo o SEBRAE – a participação delas na fundação de empresas com foco em inovação e tecnologia, também conhecidas como as startups, segue muito pequena.
Em 2011, quando o ecossistema de startups brasileiro tinha 18% do tamanho atual, as empresas desse segmento fundadas exclusivamente por mulheres representavam 4,4%. Passaram-se dez anos e, por mais que as discussões sobre equidade de gênero tenham avançado consideravelmente, esse número permaneceu praticamente estável: hoje apenas 4,7% das startups brasileiras são fundadas apenas por mulheres.
São muitos os motivos que podem ser apontados como responsáveis por esse avanço tão pequeno. Desde questões profundas relacionadas à estrutura patriarcal e racista do nosso país até como a pandemia da COVID-19 afetou de forma desproporcional homens e mulheres. Mas, focando naqueles que se relacionam diretamente ao ecossistema empreendedor, o estudo da Distrito destaca que a dificuldade em escalar o negócio é o que mais aflige as empreendedoras (60%), seguido pela necessidade de validação do modelo de negócio (56%), a falta de boas conexões (45%) e a dificuldade em captar investimentos (39%).
O fato de apenas 0,04% dos aportes realizados em 2020 terem sido direcionados para mulheres – mesmo sendo comprovado a melhor performance frente às empresas fundadas por homens – , é sim um ponto que merece problematização. Também deve ser destacado a quantidade alarmante de mulheres (72%) que relataram terem sofrido algum tipo de assédio moral para conseguir esse investimento. Mas, o ponto de atenção dessa reflexão, vai para o fato que quase metade das fundadoras trouxeram a falta de boas conexões com investidores, mentores e outros empreendedores como um empecilho para o seu progresso.
Não é nova a dificuldade que mulheres enfrentam para o networking. Seja por fatores culturais, pelo desconforto ao frequentar ambientes majoritariamente masculinos ou até pelas jornadas contínuas – não mais duplas ou triplas – que mulheres enfrentam diariamente ao ter que combinar trabalho, casa e filhos. O fato é que as barreiras enfrentadas por mulheres para criar conexões são maiores que as enfrentadas pela maioria dos homens e são esses os laços que permitirão com que elas tenham referências, conheçam histórias que ressoam com a sua, encontrem soluções para problemas, recebam apoio e, consequentemente, prosperem no seu negócio.
Nesse momento, acredito que esteja claro o porquê da associação feita no início desse texto: sim, nós precisamos ter uma vila que ajude as mulheres a prosperarem. Precisamos fortalecer a comunidade empreendedora através de um olhar empático para as questões de gêneros e assim mudar esses indicadores. Devemos sim ficar felizes com o que já conquistamos, mas juntas e juntos podemos ficar muito mais felizes com o que há por vir.
Fontes:
Female Founders Report 2021, Distrito. (https://conteudo.distrito.me/dataminer-female-founders-report)
Mulheres e negócios: a força do empreendedorismo feminino. https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/sebraeaz/mulheres-e-negocios-a-forca-do-empreendedorismo-feminino,56ff2a53c6d80710VgnVCM1000004c00210aRCRD
Empreendedorismo feminismo como tendência de negócio. https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/UFs/BA/Anexos/Empreendedorismo_feminino_como_tend%c3%aancia_de_neg%c3%b3cios.pdf